Ahhh, meu coração

9 maio

Ahhh, meu coração,
Toca em volume alto.
Toca muito uma canção,
Que muito parece a rosa, caída ali no asfalto.

Canção por vezes triste,
Algumas raras vezes farta em alegria.
Uma melodia que insiste
Em reconhecer que alegria é,
Tão somente, alegoria.

Essa música que bela pode até ser.
Entrada e entoada como uma melodia de nada.
Que de tão breve, medíocre, tal e qual, desaparecer.
De saída, saúda e acessa a canção cantarolada.

Ahh, meu coração cantarola saudades, insistente.
Saudades que a alegria violenta.
E alegria, acredite, tantas, e muitas insiste, ali renitente.
Quando a gente pensa que não, aguenta.

Tristeza tanta,
Muita.
Felicidade, sobrevivente,
Que à gente sustenta.
Obrigação conhecida.
Amiúde esquecida,
Recuperada, restabelecida.
Opção não haverá,
Ser feliz é a opção, acredite.

A gente sempre aguenta.
Vez por outra acredita que não é de nada.
Nessa gente, ali, sanguinolenta,
Gente como tantos, tão raro, ou nunca, sei lá, emocionada.
Quase nunca, mas ali na espreita,
Não ao lado esquerdo do peito, à direita.
Mentira fétida de lodo.
O tempo todo,
Não importa sofrer ou morrer.
Não importa nada.

Ahhh, meu coração sangra.
Sangra e seca.
Seca e singra no suave balanço
De águas, não das nascentes, secas.
Seja na sexta,
No sábado ou no domingo,
Acordado ou dormindo,
Ali a olhar a pedra incestada,
Avistada, aviltada e imponente.
Impotente ao algoz,
Que a ela corrói e corrompe,
Sem piedade,
Incompetente.

Ahhh, meu coração.
Queria escrever um poema de amor.
Ahhh, meu coração só canta
Essa canção de dor,
Que à minha felicidade espanta.
Busca distrair para poder,
Sem pudor,
Repetir a receita fiel
De amor,
Compaixão, solidariedade, com o sabor do mel e não do fel.

Quase tudo pode esperar.
Ou não.
Pedir perdão, aprender,
Com a razão de saber
Que tempo é vida.
Vida é, e tem que ser
Boa.

gustavohorta.wordpress.com

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