por Marco Aurélio Mello

A pesquisa Ibope divulgada na noite de terça-feira revela muito mais do que números, sempre manipuláveis, dentro ou fora da margem de erro.

Revela que a Globo fez um escolha.

Na verdade, revela que a Globo ficou sem escolha.

E, na falta de escolha, o conglomerado de comunicação estendeu seus braços ao primeiro colocado, o #elenão.

Por uma razão simples, não há mais acordo possível com partidos e candidatos do campo popular e democrático.

O Santo

É claro que, se pudesse escolher, o candidato dos sonhos seria outro, o Santo.

Mas seu partido, golpista, não o ajudou.

Não o ajudou porque nas últimas eleições gerais, em 2014, o candidato deles, derrotado, um dos artífices do golpe, hoje desmoralizado por denúncias e cercado de desconfiança, já não consegue reunir 100 gatos pingados para lançamento de sua campanha a deputado federal por Minas Gerais, como foi no último fim de semana.

Um vexame.

Virou um zumbi, um cadáver político, num dos colégios eleitorais mais importantes do país.

O próprio presidente da legenda admitiu: apoiar o golpe jurídico-parlamentar-midiático foi um erro.

É a velha máxima: quem tem pressa, come cru.

Não ajudou também porque a elite intelectual do partido da social democracia nunca comungou, nem com sua caipirice, nem com seus vínculos com a Opus Dei, a extrema direita da igreja católica.

Os “intelectuais” do partido não aceitam também a falta de carisma do chamado picolé de chuchu.

Também pesam contra ele a derrota para Lula em 2006 e os escândalos de sua já desgastada gestão em São Paulo, com pelo menos três casos emblemáticos: o Metrô, o Rodoanel e a Merenda Escolar…

Na verdade, o partido vem rachado desde que seu inimigo número um, economista e ex-ministro da Saúde, passou a bombardear as pretensões políticas de seu colega.

Sem contar a ascensão do prefake, que trouxe o fisiologismo mais rasteiro para as hostes do partido.

O Demônio

A falta de escolha da Globo ficou clara, quando do encontro no Jardim Botânico, há três semanas.

É certo que os donos da mídia levantaram uma bandeira branca para o candidato de extrema direita, desde que demarcado antecipadamente o território de convivência pacífica.

Por convivência pacífica entenda-se: mantem-se privilégios por um lado em troca de governabilidade, sobrevivência política e econômica por outro.

É o bom e velho “toma lá, dá cá”.

A Globo

A Globo hoje é refém dos interesses dos EUA, porque é lá que se investigam os escândalos do futebol.

Apesar da audiência, a emissora não tem mais credibilidade jornalística.

Isto fica claro ao conversar com as pessoas nas ruas.

Muitas identificam seus interesses comerciais sempre acima dos interesses dos cidadãos comuns.

A própria agenda da emissora deixa claro esses interesses: rentabilidade do capital financeiro (mantra: honrar contratos); transnacionais do petróleo (mantra: corrupção na Petrobras); transnacionais de alimentos (mantra: agro é pop) e não para por aí.

Sua pauta é reformista, desde que as reformas mantenham os privilégios.

Reformas Trabalhista, Previdenciária, Tributária, Política… todas elas excludentes.

Não há acordo nacional que traga eles de volta.

Ou há?