Somos lindos demais

2 abr

Somos mestiços. Somos mulatos, somos cafuzos, somos pardos, somos mamelucos, alguns brancos, alguns negros, alguns Imageamarelos, outros vermelhos. E queremos bananas.

Somos índios. Somos africanos. Somos europeus. Somos asiáticos. Somos do mundo.

Geneticamente diversificados, belas cores, belas peles, belos cabelos, belos olhos. Diversos e tantos.

Somos mestiços, cem por cento mestiços. Inteiramente miscigenados. Somos lindos.

Nem piores, nem melhores. Somos nós. Felizes que podemos ser. Felizes que devemos ser. Felizes que seremos. Felizes que somos tantos. Mestiços e felizes.

Complexo de inferioridade que tantos nos impõem, fazendo as cabeças de tantos de nós.

Cem por cento mestiços.

Felizes em sermos mestiços. Compostos pelo sangue sangrado, como bem disse o antropólogo e educador Darcy Ribeiro, sangue sangrado de seis milhões de índios. Sangue sangrado de doze milhões de negros escravizados. Tanto sangue. Tanto sangue sangrado por etnias ditas e vistas como superiores. Tidas e entendidas como superiores.

O dito pelo não dito, o brio ausente, a ética indecente, a lei imoral. Tanto sangue, tanto sangue sangrado.

O feito pelo não feito. O dito e feito.

Mestiços, graças a Deus!
Alegrem-se, regozijem-se. Regozijar-se ao orgasmo pleno e ao prazer das alegrias ainda que efêmeras, mas que a felicidade ajudam a compor. Mestiços, nem melhores, nem piores, apenas nós. Almas puras, almas plenas, almas puras. Almas virtuosas.

Almas a se degenerar na tentativa desesperada de se assemelhar às etnias ditas melhores, superiores. Já houve na história do mundo mais de uma vez em que algumas etnias assim se consideraram. Deu no que deu. Na última vez, algo como setenta milhões de mortos. Sangrando todas as cores. Sangrando todas as etnias. Sangrando as etnias tidas e havidas como melhores, tão rasas, tão equivocadas.

Já andaram pelos lados dos mestiços daqui e aqui destruíram civilizações. Tantas civilizações das quais se recusaram a aprender, Arrogância e prepotência. Algo como trinta milhões sangraram aqui.

Mestiços, graças a Deus.

Quem assim não se vir, quem assim não se perceber, equivocado, idiota ou idiotizado. Tão ou mais pateta que o próprio. Tão ou mais.

Queremos sim as bananas. Queremos sim as bananas do mundo. Queremos sim a primitividade da pureza dos primatas de onde viemos e não renegamos. Mestiços, resultado de tantas misturas, de tanto amor trans-etnias, amores proibidos a princípio, amores que em nós resultaram.

Mestiços, graças a Deus.

Nem melhores, nem piores. Somos apenas bons. Bons o bastante para um dia podermos ensinar ao mundo o quanto é bom comer bananas, o quanto é bom amarmo-nos uns aos outros.

Ainda que haja entre nós alguns ainda atrasados, alguns que ainda, recalcitrantes, tentam se diferenciar de tão adorável mistura, de tão rica e diversificada miscigenação.

Mestiços, graças a Deus.

Somos vira-latas, ‘street dog’ – mutts, de los mutts, corniauds, ou outros nomes que queira, auto imunes a tantas e a tantos. Coisa ‘danada’ de boa. Danada de poucos danos, protegidos.

Somos mestiços. Somos mulatos, somos cafuzos, somos pardos, somos mamelucos, alguns brancos, alguns negros, alguns amarelos, outros vermelhos. E queremos bananas.

Somos índios, incas, astecas, maias e tantos outros. Tupis, guaranis, tupinambás, pataxós, txucarramães, … Somos africanos (tantos e tantas…). Somos europeus. Somos asiáticos. Somos do mundo.

Somos mestiços e, pelo menos eu, tenho alegria e felicidade de assim ser. Mestiço, cem por cento puro nas tantas misturas, nascido aqui, criado aqui, com a minhas limitações e com as minhas tantas possibilidades. Sou um entre tantos bons e puros em boa vontade. Um entre tantos bem intencionados. Um entre tantos bons.

Somos lindos demais.

Claro como água de pote.

Recebam as bênçãos abundantes, fartas. Saibam recebê-las e saibam, sobretudo agradecer por tê-las recebido, lembrando o que de fato significa agradecer. Em nada se assemelhar a apenas prostrar-se a dizer ‘muito obrigado, senhor’. Agradecer é estar, de verdade, muito obrigado. Muito obrigado a compartilhar, distribuir, dividir, doar, repartir, …

Felicidade. Sempre.

4 Respostas to “Somos lindos demais”

  1. Raul Zambrano 13 13-03:00 junho 13-03:00 2014 às 11:48 #

    Fala do Brasil, mas fala do México também.

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    • gustavo_horta 13 13-03:00 junho 13-03:00 2014 às 15:17 #

      Agradeço sua visita, Raul.
      Com certeza vocês têm a miscigenação forte, mas não sabia de uma participação com biodiversidade genética tão ampla quanto a nossa aqui do Brasil.
      Mas, de qualquer forma, sermos mestiços é ESPETACULAR!|
      Entre nós, pelo menos, não há reis que ainda nos dias de hoje passam as férias caçando elefantes na África. Não aprenderam nada com os massacres que promoveram aqui nas Américas. Uma pena!
      Abraço e felicidade. Sempre.
      Gustavo Horta

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  2. Geraldo Maximo 13 13-03:00 junho 13-03:00 2014 às 22:44 #

    Grande Gustavo, texto espetacular !!!

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    • gustavo_horta 14 14-03:00 junho 14-03:00 2014 às 18:39 #

      Valeu Geraldo, Que bom que tenha gostado!
      Agradeço muito sua visita e suas palavras gentis.
      Abraço e felicidade. Sempre.
      Gustavo Horta

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