13 de Maio – um golpe, uma ação corretiva?

27 maio

Uma vez criado o desequilíbrio, muito difícil restabelecer uma ordem anterior. Poderia se dizer que é quase impossível. Assim foi com a crueldade do sistema escravocrata que foi a base da gestão do país por séculos.

Os europeus, tão superiores quanto queiram parecer e quanto os tupiniquins daqui queiram aceitar, capturaram cidadãos africanos como se fossem caça e os trouxeram na marra para as Américas, como escravos, dita mão de obra barata.

ImageGente sem alma, já que àquela época assim se entendia. Àquela época os europeus criaram o conceito até hoje vigente de raças! Raças diferentes, como se todos não viéssemos de uma mesma origem africana, como mostram, demonstram, os mais recentes estudos sobre o genoma humano. Atenção, genoma humano e não genoma branco, amarelo, negro, vermelho, etc. Uma única raça, um único genoma.

Veja que ainda hoje, diferença na avaliação entre pessoas diferentes não há. Não europeus, não ricos, macacos são. Macacos são os negros, os muçulmanos, os latinos, em especial os latino-americanos, os asiáticos. Macacos somos nós.

Contudo, àquela época, a mão de obra escrava requeria alimento, teto e vestuário. Quando preciso, chamava-se o médico, provia-se o remédio, pois a perda do escravo era perda de patrimônio caro e de difícil reposição. Transporte para o trabalho e para casa, calçado, mesmo que fosse ruim! Necessidades básicas, essenciais.

Aí, o pensamento capitalista primitivo tupiniquim da época – que muito evoluiu até os dias de hoje –, alimentado pela sabedoria exploratória portuguesa, tão bem consolidada na península ibérica, pressionado pelo capitalismo mais moderno à época e mais rapineiro britânico, já com a revolução industrial em pleno vapor, foi induzido a promover a progressiva libertação destes escravos.

Abertura dos portos às nações amigas – leia-se Inglaterra – em 1808, para a livre entrada dos produtos industrializados ingleses, sucessivas leis anti-escravatura ou abolicionistas a partir do início do século XIX. A primeira lei foi em 1830 – que “não pegou”, seguida pela lei Eusébio de Queiros em 1850, proibindo o tráfego de escravos. Repetia, de forma praticamente idêntica a lei inglesa de 1845 (Slave Trade Suppression Act ou Aberdeen Act). Depois veio a lei do ventre livre/1871, que de forma ambígua, autorizava a que os filhos dos escravos nascidos a partir da promulgação da lei estariam livres, mas que “poderiam” ficar sob os cuidados do senhor de escravos até a maioridade – 21 anos à época – ou passar aos cuidados do estado, desde então uma porcaria, como nos dias atuais. Em seguida veio a lei dos sexagenários/1885 que concedia liberdade a todos os escravos que completassem sessenta anos, muito poucos posto que a morte, em geral, ocorria bem antes disto. Além do mais, aos sessenta anos o escravo já não era mais produtivo e melhor era “se livrar” deste problema. Finalmente veio a lei áurea em 13 de maio de 1888.

Grande golpe final. Os ex-escravos agora receberiam um salário de merda, quando recebiam, com o qual deveriam custear todas as suas necessidades básicas (moradia, alimentação, saúde, transporte, vestuário, medicamentos) antes assumidas pelos proprietários, agora recebendo o trabalho dos homens a troco de pouquíssima despesa. Negócio da China!

Além do mais, poderia gerar consumidores primitivos para o deleite da economia inglesa, industrial e exportadora.

Todos felizes! Favelas, miséria, miseráveis, pobreza! Paciência! Escolas de samba (1928), times de futebol (1895), coisas assim e o povo ignorante, idiotizado e imbecilizado se mantinha calminho!

Tempos se passam. Pobreza se alastra. Conflitos se ampliam. Poder constituído reprime e encontra as conhecidas explicações racistas, preconceituosas, para os diferentes fenômenos sociais que assolam a nação. Sofismas crescentes sobre um mar de ignorância assustadora.

Criam-se leis que nunca são cumpridas. Cria-se a Consolidação das Leis do Trabalho, de novo aviltando o trabalho em favor do capital. Cria-se o salário mínimo, nunca cumprido.

Estabelece-se o regime selvagem, cada vez mais voraz. Cada vez menos piedoso, cada vez menos misericórdia e mais ambição. Se junta o pior de todos os sistemas de gestão. Cria-se um capitalismo tupiniquim selvagem, com o pior do capitalismo e o pior do comunismo, com pitadas do pior do socialismo! Uma merda completa!

Tudo para poucos, muito poucos. Nada, ou quase nada para o resto, grande maioria.

O sistema cada vez mais vigoroso na manutenção do ‘status quo’, com fortes argumentos, mais sofismas, mais crueldade. Muita munição, muitos meios e recursos. Na verdade, com quase todos os meios e recursos. Pobre povo brasileiro, pobres de nós.

Impressionante como é azeitada, bem lubrificada, bem mantida, bem engrenada em suas diferentes partes a máquina do mal!

Pseudossoluções, ações sobre efeitos, placebos. Nada, quase nada, muito pouco, quase nada mesmo pode se salvar.

Dia haverá, espera-se, acredita-se, em que um julgamento final há de ocorrer, mas, até lá, azar o seu! Para tantos, o mundo acaba com a própria morte! E dá-lhe carrões importados para atropelar pedreiros não sóbrios nas estradas da Serra do Mar. E dá-lhe policiais ingleses a assassinar operários eletricistas no além-mar, policiais australianos a eletrocutar jovens estudantes mais longe ainda. E a vida continua linda, bela e alegre. Matem-se os Maias, os Astecas, os Incas, os macacos em geral. Tupis, Guaranis, Yanomanis, …, os latino-americanos, os negros – seja de onde eles forem – os muçulmanos, os asiáticos, os pobres.

Uma vez criado o desequilíbrio, muito difícil restabelecer uma ordem anterior. Poderia se dizer que é quase impossível.

Uma vez criado um desequilíbrio, muito difícil restabelecer uma ordem anterior. Ou até mesmo uma nova ordem, ainda que artificialmente. Poderia se dizer que é quase impossível. Deslocado de sua posição de equilíbrio, um novo equilíbrio se encontrará, nem que seja na marra!

Será que se pode pensar nisto?

Abraço e felicidade, sempre.

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