Triste, né não?

Alguém pode até sentir o chão movendo-se aos seus pés.
Alguém pode até ter visões de deus e de outros tantos santificados. São tantos, muitos, deuses aqui e ali.
Alguém pode concordar com estrangeiros fazendo gestões de pressão sobre o país em que vive. Difícil se libertar da compreensão enraizada de colônia.
Alguém pode achar normal, coisas da vida, pessoas, às dezenas, serem massacradas em espancamentos, humilhações e morte pelo estado. Genocídios, assassinatos, morte em vida, todo dia e o tempo todo.
Alguém pode achar normal. Acredite, os há.
Alguém pode ficar muito tenso com seu corte de cabelo, com a roupa a vestir, com a estranha necessidade de trocar o celular. Acredite, os há.
Alguém pode até achar certo o uso das leis e dos juristas a estabelecer regras em ‘lawfare’.
Alguém pode não sofrer com as muitas tantas perdas e miséria ao seu redor. É o normal, aceito que nem choca mais. Alguém ainda sente dor. Acredite, os há.
Alguém pode acreditar, de verdade, que outro alguém viva na miséria e passe fome, que outro alguém more ao relento, sob chuva, sob frio, sob calor extremo e que coisas assim sejam parte normal do dia a dia. É, a vida é assim.
Alguém pode estar concentrado na dificuldade de estacionar sua Mercedes, sua Porsche, seu carrão. Que coisa chata não ter onde parar o carro. E lá vem o flanelinha, chatice.
Alguém pode até se incomodar com o flanelinha que se oferece para tomar conta do carrão, um outro alguém a vender balinhas no sinal. Acredite, os há. Incômodo sem compaixão ou solidariedade. Amor, nem pensar.
Alguém pode até se avaliar como de sucesso pelo seu mérito pessoal.
Alguém ainda pode ser contra a presença do estado na economia e, entretanto, estuda como louco para passar no exame do concurso público. Mas e o estado, e o governo?
Dissonância?
Esperteza?
Maldade?
Canalhice?
Pode ser tudo isso junto e misturado.
Pode ser.
Tantas e muitas vezes é assim. Triste, né não?

gustavohorta.wordpress.com

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Há muitos anos eu gosto de dizer que de nada adianta a gente se pre-ocupar se a gente não se ocupar… ensinando, orientando, corrigindo, dando o exemplo, …