A FESTA CONTINUA…

Alguns acreditavam que as coisas ficariam boas. Afinal, elas estavam melhorando, mesmo que ainda não boas.

As coisas estavam melhorando para uma parte importante dos convivas que ali participavam da festa pela primeira vez.

Subitamente, um filhinho de papai idiota e oportunista, com a cara cheia de tanta droga, cheirada, bebida, fumada e esfregada nas gengivas, lavrou suas palavras de ameaças na poeira que ele costumava compartilhar com outros carinhas dali. E outros o seguiram imediatamente. Alguns o seguiam em seus helicópteros, outros de trens metropolitanos, outros vendendo até coisas que nem eram suas, mas que queriam entrar e participar da farra. A farra do boi, a farra para os que ali tentavam comandar a festa.

E eles conseguiram mesmo botar lenha na fogueira. Acesa a fogueira das vaidades, lenha na fogueira, pó para todo lado, pós para tantos e muitos. Acesa a fogueira das oportunidades, acesa e ardente a fogueira das sacanagens clássicas.

Mesmo entre aqueles que achavam que as coisas estavam melhorando, ainda que boas ainda não estivessem, apareceram uns e outros que aos poucos acreditavam nas vozes intensas e permanentes dos amigos dos cheiradores. Alguns patrões, alguns súditos, outros apenas a esperar as sobras , um pouquinho do pó.

Aliás, podia-se pensar que, na verdade, os cheiradores eram apenas isto, cheiradores, entregando tudo em troca de seu pó. E o pó flutuava livremente e embaçava a visão, tamanha a quantidade. Puro ou não, para consumo próprio ou para comercialização.

Para a turma do pó tudo era permitido, pois ali entre eles, o pó era o comando. Dinheiro era necessário, mais e mais pó. Como ficara cada vez mais baixa a visibilidade naquele ambiente tão empoeirado.

Mesmo sem ver nada direito, apenas seguindo seus guias espirituais e seus guias não escolhidos, mas a eles impostos de forma maciça, aqueles que antes acreditavam que as coisas ficariam boas, começaram a duvidar. Afinal, as coisas estavam melhorando como nunca antes, todavia ainda não estavam boas o bastante. Passaram a vê-las como ruins e, pior, piorando. Com a visão enuviada por aquela grande quantidade de pó, poucos restaram para perceber que as coisas estavam melhorando para uma parte importante dos convivas que ali participavam da festa pela primeira vez. Os que não queriam aqueles intrusos ali presentes, sopravam mais e mais pó, turvando a visão e, ardilosamente, convenciam mais e mais de que as coisas estavam de fato piorando.

O pó passou a ser, liberado, mesmo que de forma sutil e sub-reptícia. Havia acordos formais entre os que compravam com os que vendiam. A promiscuidade entre consumidores e fornecedores se acentuava. Era muita poeira no campo visual, era muito pó nos ouvidos, era muito pó respirado, pós acumulado na superfície da pele, pó para todo lado, para cima, para baixo e para os lados, todos os lados. A rosa dos ventos a levantar poeira para todo lado. Para todos os lados, aqui e ali.

No final das contas, os novatos que da festa participavam pela vez primeira, acabaram por serem excluídos, expulsos, enxotados, já esculachados, arregaçados e devidamente esculhambados. A festa, uma orgia de pó, sacanagem, e sexo em bacanal, voltou a ser controlada pelos seus anfitriões de sempre, passou a ser frequentada somente pelos convivas tradicionais e os novatos, excluídos, apenas podiam colocar suas bundas nas janelas.

Uma festa velha com um certo tom ainda mais sexy do que o carnaval.